terça-feira, 21 de junho de 2011

O Inferno é você quem traz.

"[...]Ao baixar a guarda e abrir a porta para uma nova ilusão, me rebaixei ao ponto de não me enxergar mais.
Diminui consideravelmente o meu nível de consciência do eu, e o pior, sem o uso de nenhuma psicotrópico, apenas a droga da paixão e da carência, mistura essa, explosiva e mortal. Detonou meu sistema límbico, corroeu meu ego, destruiu minha auto-estima e me cegou. Maldito dia! Por que diabos eu fui sair do meu lugar, me perder? Nisso foram 8 meses perdidos, apagados, esmaecidos de minha vida,  entre quedas e tombos, sobrevivi e conto hoje  minha história. Conto a história de alguém que  não eu, pois não me reconheço como em outros tantos momentos da minha vida, outros até mais distantes que lembro com nostalgia e saudade. Desses não. Esses dias, quero expurgar, tornar refugo irrecuperável, não-renovável, não-reciclável, não-retornável e todas as demais nomenclaturas do desenvolvimento sustentável existentes. E hoje o que resta, digo nas Flores do Mal, de Baudelaire, parafraseado por Russo:


As Flores do Mal

Legião Urbana

Composição: Renato Russo
Eu quis você
E me perdi
Você não viu
E eu não senti
Não acredito nem vou julgar
Você sorriu, ficou e quis me provocar
Quis dar uma volta em todo o mundo
Mas não é bem assim que as coisas são
Seu interesse é só traição
E mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Tua indecência não serve mais
Tão decadente e tanto faz
Quais são as regras? O que ficou?
O seu cinismo essa sedução
Volta pro esgoto baby
Vê se alguém lhe quer
O que ficou é esse modelito da estação passada
Extorsão e drogas demais
Todos já sabem o que você faz
Teu perfume barato, teus truques banais
Você acabou ficando pra trás
Porque mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Volta pro esgoto baby
e vê se alguém lhe quer

Considerações

Parte do livro autobiografia não-autorizada:
"[...]E quem disse que eu não errei? Sim, errei. Cometi erros que são imperdoáveis, principalmente para mim própria. E me perdi, estava perdida, querendo tomar outro rumo na vida, desvencilhar-me das velhas escolhas, mas achava tarde demais, e fugindo de tudo, das responsabilidades, do fim do período naquela terra, arranjei, subitamente e por acidente, uma fratura que me fez parar os meus trabalhos temporariamente, e fez junto parar minha mente de produzir tudo o que necessitava para obter minha carta de alforria, para enfim poder trilhar novos caminhos, fazer novas escolhas e seguir outro rumo, decerto um que eu ainda não conhecia, mas que precisava à revelia tentar trilhar. O tempo, esse chacal, foi-se encarregando de botar mais dificuldades nas minhas veredas, trazendo algo para fazer desabar de vez as minhas esperanças na mudança positiva que eu tanto esperava há tempos. E naquele fatídico dia, num descuido do olhar... Que dia infeliz! Quanta enganação!"

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Essa tal felicidade...

Alguém, alguém por favor me diga, se acredita nessa tal felicidade, nessa que as pessoas, sim, as pessoas, estas que estão ao seu redor, que teimam em 'demonstrar' tamanha satisfação, através desta verdade que ninguém (ninguém?) sabe se é verdade. Não. Não é verdade. As pessoas sempre julgam que você é mais feliz, que você é mais esperto, que você ganha mais do que realmente ganha, que sua grama cresce mais rápido, que seu cabelo cresce mais rápído, que a fila que você está anda mais rápido, que você tem todas as vantagnes que ela gostaria de ter...Mas não é bem assim. Pode parecer ser isso, mas não é. Da mesma forma ocorre de lá pra cá. Recíproca verdadeira. Porém, ledo engano. Afora isso, a corrida deste 'capitalismo parasitário', o qual Zygmunt Bauman descreve tão bem, e Clarice Lispector decifra tão maravilhosamente quando nos diz: *Eu sei mas não devia... Pois é nessa corrida desenfreada pelo consumismo exacerbado que mora a inveja e a violência; do ter para ser, do ter cada vez mais para ser cada vez mais, mas MAIS o quê eu realmente não sei. Cansada de tudo isso, resolvo jogar tudo pro alto e trilhar novas alamedas para minha vida, que novos sentidos e valores, semear e cultivar a simplicidade pra não explodir de tédio e de cansaço de tanto correr pra lugar nenhum. Pessoas que nem sequer conheço, contribuem para decisões tão importantes na vida de uma pessoa. Poupar-se do desassossego e do lamento, da sofreguidão de espaçar seus dias entre cadeiras apertadas e abarrotadas de injúrias, 'não-me-toques' entre outras metáforas intragáveis existentes neste dia-a-dia rotineiro. "Chega, vou mudar a minha vida." Renato Russo sempre diz o que eu quero dizer, sempre escreveu antes  o que eu queria expressar. Não nasci pra maquinista, quero apenas guiar minha própria  vida. É só.



"Eu sei, mas não devia

Eu sei que a gente se acostuma.


Mas não devia.


A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E porque à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.


A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora.


A tomar café correndo porque está atrasado. A ler jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíches porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a abrir a janela e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números da longa duração. A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que paga. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com o que pagar nas filas em que se cobra.


A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes, a abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema, a engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.


A gente se acostuma à poluição. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às besteiras das músicas, às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À luta. À lenta morte dos rios. E se acostuma a não ouvir passarinhos, a não colher frutas do pé, a não ter sequer uma planta.


A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda satisfeito porque tem sono atrasado. A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.


Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.


A gente se acostuma para poupar a vida.


Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma." CL

terça-feira, 7 de junho de 2011

Profissão Barbeiro:Cabeça Raspada e os Pesqueiros Nos Faziam Chorar - Wilson Bernardo.


Quem nunca chorou pra ir a escola,com medo de levar pesqueiro dos colegas,tempo de recordações e talvez o fim de um profissão,engolida pelos salões de beleza coletivos e preços popularizados.Mas a velha cadeira de barbeiro,aquela que deita e você dorme uma eternidade tirando a barba e um velho cochilo cortando os cabelos,talvez esteja prestes a ser apenas uma fotografia.Em Crato velhos barbeiros ainda resistem a velocidade do capital eletromodernizado,ainda temos seu Zé barbeiro e a tradição de velhos amigos no calçadão do Crato,seu Pinto no beco da Siqueira Campos,Rua da  Saudade,em frente a Prefeitura e uns mais dois  resistindo ao tempo. Quem viveu verá,quem não sinta o prazer da maquina raspadeira em seu casco cabeludo de saudosismos.



      Seu Zé Barbeiro no Salão do Calçadão,seu Zé é pai da cordelista Josenir Lacerda.
                            O velho corte de tempos remotos mais saudoso de satisfações.

Wilson Bernardo(Texto & Fotografia)

Sonhos incertos

'E essa minha mente que não descansa nem dormindo: sonhos, sonhos estranhos, realmente intranquilos que aparecem assim, do tudo. Do tudo vivido, da perturbação diária, da preocupação noturna, das chateações. De um medo aliviante, que resolveria toda a questão...
E partindo pra novos destinos, me alegro em estar viva, em ter sonhado, em não ter vivido aquele tormento. "Viver é melhor que sonhar" mesmo. E vejo distante e tão perto, tudo o que quero realizar, e torço rezo e choro pra que as mudanças aconteçam logo, pra que aconteçam antes do fim. Antes do fim do dia, antes do fim da vida. Mas não. Não realizo tudo o que planejei antes de ir dormir, não há o mesmo entusiasmo, a iniciativa os planos tão docemente almejados. Tudo é cancelado ao defrontar-se com a fria realidade, com as impossibilidades. No entanto, devo me conformar com todas essas dificuldades? Devo me sentar e esperar que tudo aconteça pela providência Divina, como tem ocorrido? Não. Não consigo. Teimo, teimo e teimo até dizer chega! Até esgotar as possibilidades. Amanhã talvez tudo se repita, mas nada será como antes.'

segunda-feira, 6 de junho de 2011

 Belezas são coisas acesas por dentro.
Tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento.